Projeto de Souto Moura e Paula Rego
Em 2006, Paula Rego escolheu Cascais para a construção da sua Casa das Histórias, um projecto de Souto de Moura, que ocupa o terreno da Parada, mais concretamente a área dos antigos courts de ténis do Sporting Clube de Cascais, tirando partido desta clareira como espaço de intervenção. Para Souto de Moura foi importante preservar ao máximo a vegetação pré-existente: “Escolhemos sem dúvida o melhor terreno, situado junto ao Museu do Mar, na área da antiga Parada. Este terreno com uma vegetação brilhante, apresentava um grande vazio, formado por uns velhos courts de ténis do Sporting Clube de Cascais.” (Capucho, 2009, p. 11)
Entre três lugares possíveis para a implantação deste Museu, todos eles em Cascais, Souto de Moura escolheu, conforme referido, o terreno vizinho ao Museu do Mar. Este terreno e as suas características determinaram as primeiras linhas do projecto, como as árvores existentes (eucaliptos, amendoeiras, e principalmente pinheiros), já que o projecto teve de ficar mais próximo da vegetação do que o inicialmente pretendido, devido à área reduzida do lugar. A escolha do arquitecto Eduardo Souto de Moura, foi da responsabilidade de Paula Rego, que desde o inicio desejou que este fosse este o arquitecto para a sua Casa das Histórias. Eleita a Vila de Cascais para receber o novo Museu, é já Souto de Moura que escolhe o terreno para a construção deste projecto. (...) Quanto ao Museu Paula Rego, tive a felicidade de ter sido escolhido pela Pintora e da câmara ter disponibilizado dois sítios interessantes para o construir. (...) Escolhemos sem duvida o melhor terreno. (Capucho, 2009, p. 11) Souto de Moura elegeu o antigo Clube da Parada para a implantação do Museu, concretamente na área que abrangia os antigos courts de ténis do Sporting Club de Cascais, possibilitando a sua integração no espaço envolvente mas respeitando ao máximo a pré-existência, algo que constitui uma preocupação constante ao longo da carreira de Eduardo Souto de Moura. Com efeito, as dimensões do edifício – que o arquitecto procurou aproximar aos edifícios em redor –, a sua integração no lugar, resultando num edifício rodeado de vegetação, numa lógica habitacional (apesar da existência das pirâmides, com as quais o arquitecto procurou evidenciar o edifício), a escolha dos materiais (nos quais figura o azulino de Cascais) e até a escolha da cor traduzem essa preocupação.
Assumindo-se o terreno e as árvores preexistentes como elementos fundamentais, os diferentes volumes que compõem o edifício configuram quatro alas, subdivididas no interior em salas sequenciais, dispostas em torno de um volume central mais elevado, que corresponde à sala de exposições temporárias. O interior, em tons neutros, pavimentado a mármore azulino de Cascais, conta, para além das áreas técnicas e de serviço, com 750 m2 de áreas de exposição, uma loja, uma cafetaria com esplanada aberta para um frondoso jardim e um auditório com 195 lugares.
Na tese “Casa das Histórias Paula Rego: um projecto de Eduardo Souto de Moura”, Mariana Camara Pestana da Silva Parreira afirma: “Mantendo-se fiel às suas convicções, Souto de Moura recupera ainda, no Museu Casa das Histórias Paula Rego, o jogo entre opostos a que nos habituou ao longo da carreira e que se verifica, por exemplo, na escolha da cor vermelha para as fachadas exteriores de todo o edifício, com o intuito de contrastar com o verde presente na vegetação pré-existente. Outro exemplo disso é relação entre o interior e o exterior, através do qual ESM procura fazer um contraste entre o artificial, sendo este a criação do Homem, e o natural, constituído pela vegetação envolvente. Por outro lado, o Museu Casa das Histórias representa em nosso entender, uma abordagem mais confortável por parte do arquitecto ao tema das janelas. O que em tempos constituía uma dificuldade assinalável para Eduardo Souto de Moura, surge neste Museu como algo natural, marcando pontos de relação entre o interior do edifício e a paisagem exterior, significando de modo intuitivo, momentos de pausa e contemplação destes “quadros da paisagem” sugeridos pelo arquitecto.” É referido também que neste museu Souto de Moura associa certos dispositivos formais com um legado de composição arquitectónica, adoptando fórmulas específicas para a inserção do edifício na zona circundante, bem como uma utilização de escala que pode ser facilmente contextualizada num tipo muito específico de geografia. Sua proximidade com o trabalho de Raul Lino é, portanto, definido em uma paisagem “do Sul”, sem recorrer a qualquer desnecessários decorativos ou pitorescos folhos “. “Com este museu, Souto de Moura desenvolve uma forma de” arquitetura moderna “sem, de fato, repetir qualquer um dos” modelos antigos “- de acordo com as ideias defendidas por Aldo Rossi em sua autobiografia científica – evocando arquétipos intemporais de Iconografia urbana: torres, faróis, silos e chaminés, como os que definem o perfil do Palácio de Sintra. Não é de surpreender, portanto, se se prossegue a “analogia”, que ao descrever este museu Souto de Moura também mencionou Os telhados pronunciados dos palácios de Raul Lino, ou a ideia de uma “chaminé habitada”, evocando a da cozinha no mosteiro de Alcobaça. De fato, na sua melhor interpretação, a Casa das Historias pode ser vista como um projeto “historicista” uma condição que certamente surpreenderá os mais fiéis seguidores de Souto de Moura e confundirá seus críticos mais duros “.
As obras da Coleção Casa das Histórias Paula Rego (CHPR)
A Coleção Casa das Histórias Paula Rego (CHPR) surge no panorama museológico português em setembro de 2009 e desde então tem-se assumido, no contexto nacional e internacional, como uma das mais significantes para o conhecimento da obra da artista. Constituída pela doação da artista da totalidade da sua obra gravada e por mais de duas centenas de desenhos, esta Coleção reflete grande parte do seu percurso criativo. As várias doações ao museu realizaram-se em quatro períodos distintos: a primeira em 2009 e que originou parte essencial da Coleção; em 2016, 2019 e 2020 com a atribuição ao museu das restantes obras gravadas produzidas entre 2009 e 2020.
A Coleção alberga ainda treze obras de colecionadores particulares e públicos a título de depósito no museu monográfico dedicado à artista contemporânea portuguesa mais conhecida mundialmente: um conjunto de obras que veio colmatar algumas lacunas da Coleção e permitir uma visão de conjunto da produção pictórica da artista dos anos 1960 aos anos 2000.