Lourdes Castro, uma das figuras mais emblemáticas da arte contemporânea portuguesa, deixou um legado artístico profundo e multifacetado. Ao longo da sua carreira, marcada pela experimentação constante, a artista explorou temas como a luz, a sombra e a ausência, utilizando uma variedade de técnicas e suportes que desafiam os limites da arte tradicional. Desde o seu envolvimento com o coletivo KWY em Paris até à criação do seu inovador "Teatro de Sombras", Castro destacou-se pela originalidade e profundidade poética das suas obras. Esta artista não só influenciou a arte em Portugal, mas também alcançou reconhecimento internacional, consolidando a sua posição como uma das mais importantes criadoras do século XX e XXI. O seu trabalho, centrado na simplicidade e simbolismo, continua a inspirar e a provocar reflexão, tornando Lourdes Castro uma presença incontornável no panorama artístico.
Qual é o percurso artístico de Lourdes Castro?
Lourdes Castro teve um percurso artístico multifacetado, que começou na ilha da Madeira, onde nasceu em 1930, e se desenvolveu internacionalmente, influenciado por diversas correntes artísticas e pela sua própria exploração criativa. Lourdes começou os seus estudos no Colégio Alemão no Funchal, mas em 1950, com 20 anos, partiu para Lisboa para estudar na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL), onde concluiu o curso de pintura em 1956. Iniciou a sua carreira artística com uma exposição coletiva em 1954 no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, ao lado de José Escada e Carvalho e Rêgo.
Após se casar com René Bertholo em 1957, Lourdes mudou-se para Paris, onde fixou residência em 1958. Nesse mesmo ano, foi-lhe atribuída uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, que permitiu o desenvolvimento de um dos seus primeiros grandes projetos: a criação da revista KWY. Esta publicação, realizada em serigrafia, tornou-se um ponto de encontro para artistas de diferentes nacionalidades e estilos. O coletivo KWY incluía artistas como Christo, Jan Voss e Costa Pinheiro, e teve grande impacto no cenário artístico europeu, realizando exposições em cidades como Lisboa.
Nos primeiros anos da sua carreira em Paris, Lourdes esteve associada à abstração, uma corrente comum entre os membros do grupo KWY. No início da década de 1960, começou a explorar o Nouveau Réalisme, utilizando colagens e assemblages de objetos do quotidiano, muitas vezes pintados com tinta de alumínio, refletindo a modernidade e a banalidade da vida quotidiana.
A década de 1960 marca o início do interesse central de Lourdes pela sombra, que viria a definir grande parte da sua obra. Este tema, inicialmente explorado na serigrafia, estendeu-se a outros suportes como plexiglas, linho translúcido e performances teatrais. Em 1964, começou a utilizar plexiglas para criar representações de sombras e, em 1968, começou a bordar os contornos das sombras em lençóis de linho. A sua obra incluiu ainda a experimentação com o “Teatro de Sombras”, iniciado em 1966, e continuado em colaboração com Manuel Zimbro, parceiro de vida e arte, com quem desenvolveu vários projetos ao longo de mais de três décadas.
Lourdes Castro continuou a desenvolver o seu trabalho ao longo das décadas, com exposições em várias cidades da Europa e da América Latina. Em 1992, a Fundação Calouste Gulbenkian organizou uma retrospetiva intitulada Além da Sombra. Destacam-se também a sua colaboração com Francisco Tropa na Bienal de São Paulo de 1998 e o prémio CELPA / Vieira da Silva – Artes Plásticas Consagração em 2004. No final da sua carreira, produziu ainda obras em tapeçaria e azulejos.
Quais são as características das obras de Lourdes Castro?
Exploração do Tema da Sombra: A sombra é o elemento central da obra de Lourdes Castro, sendo uma constante reflexão sobre a presença e ausência, a luz e a escuridão. A artista utilizou sombras como uma forma de capturar a essência das pessoas e objetos, sem precisar representar o corpo físico ou o objeto em si. As suas obras em plexiglas, serigrafias, bordados e performances no "Teatro de Sombras" exploram este conceito de várias maneiras.
Utilização de Materiais Não Tradicionais: Lourdes Castro experimentou com uma variedade de materiais pouco convencionais, como plexiglas, lençóis de linho translúcido e tinta de alumínio. O uso destes materiais reflete a sua capacidade de ultrapassar os limites da arte tradicional, criando obras que dialogam com o espaço e a luz de formas inovadoras.
Minimalismo e Abstração: Embora tenha começado a sua carreira com influências da abstração, a sua obra evoluiu para uma estética mais minimalista. As suas representações de sombras são muitas vezes simples contornos de figuras humanas ou objetos, desprovidos de detalhes, o que reforça o caráter etéreo e intangível da sombra.
Colagem e Assemblage: Durante a sua fase inicial, ligada ao Nouveau Réalisme, Lourdes Castro produziu colagens e assemblages de objetos quotidianos obsoletos, criando composições que combinavam elementos da vida real com abstração. Estas obras são pintadas com tinta de alumínio, conferindo-lhes um aspeto metálico e industrial.
Interatividade e Performatividade: Lourdes não se limitou a suportes estáticos. Através do seu “Teatro de Sombras”, envolveu o público numa experiência interativa e performativa, onde as sombras ganhavam vida em movimento. Este uso performático da sombra adicionou uma dimensão dinâmica à sua obra, explorando a efemeridade e a transformação.
Simbologia e Poesia Visual: As sombras que Lourdes Castro captura têm um caráter simbólico, remetendo para a ideia de ausência, memória e o efémero. As suas obras convidam o público a refletir sobre o que é invisível e imaterial, proporcionando uma experiência poética e contemplativa.
Influência da Natureza: A paisagem natural da Madeira, sua terra natal, desempenhou um papel importante na sua obra, especialmente na série O grande herbário de sombras (1972), onde Lourdes capturou sombras de plantas e vegetação, transformando elementos da natureza em símbolos poéticos.
Colaboração Artística: A parceria de Lourdes Castro com Manuel Zimbro foi significativa, especialmente no desenvolvimento de obras performativas e no aprofundamento do conceito da sombra. Esta colaboração resultou em várias performances e exposições conjuntas, como a antologia "Lourdes de Castro e Manuel Zimbro: A Luz da Sombra" em 2010.
Quais são as influências de Lourdes Castro?
Paisagem Natural da Madeira: A ilha da Madeira, onde nasceu e para onde regressou em 1983, teve uma influência marcante na sua obra. A natureza, a luz e as sombras da paisagem insular foram fontes de inspiração, particularmente visíveis em obras como O grande herbário de sombras (1972), onde capturou sombras de plantas e elementos naturais. Esta ligação à natureza reflete a importância da ilha no seu imaginário artístico.
Abstração e Arte Contemporânea Europeia: Quando se mudou para Paris no final dos anos 1950, Lourdes Castro esteve imersa no ambiente artístico europeu, que estava fortemente influenciado pela abstração. No início da sua carreira, ela e outros artistas do grupo KWY exploraram as formas abstratas, e essa corrente artística marcou o seu trabalho inicial.
Nouveau Réalisme: Durante a década de 1960, Lourdes Castro aproximou-se do movimento Nouveau Réalisme, uma corrente artística que valorizava a utilização de objetos do quotidiano e a sua recontextualização artística. Esta influência é evidente nas suas colagens e assemblages, onde utilizou objetos obsoletos do dia-a-dia, muitas vezes pintados com tinta de alumínio, refletindo o conceito de arte como espelho da vida moderna.
Simbologia das Sombras: A sombra, que viria a tornar-se o elemento central da sua obra, é uma influência que Lourdes Castro cultivou a partir de referências culturais e literárias. Desde o início da década de 1960, ela começou a explorar a sombra como uma metáfora da presença e ausência, inspirando-se em mitos, histórias e tradições que associam a sombra à alma, à memória e ao efémero. O tema da sombra atravessa a sua obra, explorado em diferentes suportes e formatos.
Minimalismo: O trabalho de Lourdes Castro também é influenciado pelo minimalismo, particularmente na sua representação simplificada de figuras humanas e objetos através das sombras. A ausência de detalhes, e o foco em contornos simples e formas essenciais, reflete essa estética minimalista.
Teatro e Performatividade: A experimentação com o Teatro de Sombras trouxe influências performativas à sua obra. Inspirada em tradições teatrais e na própria noção de teatro de sombras, Lourdes incorporou o movimento e a performatividade no seu trabalho, explorando a interação entre a luz, a sombra e o corpo humano. Esta vertente foi aprofundada em colaboração com o artista Manuel Zimbro, com quem desenvolveu várias performances artísticas.
Colaboradores e Artistas Contemporâneos: O convívio e a colaboração com outros artistas, particularmente os que faziam parte do coletivo KWY, como René Bertholo, Jan Voss e Christo, foram importantes no desenvolvimento da sua visão artística. Este grupo partilhava uma abordagem experimental e desafiava os limites da arte tradicional, algo que se refletiu em várias fases da obra de Lourdes.
Movimentos de Vanguarda Internacional: A permanência de Lourdes em Paris, um centro da arte vanguardista, expôs-a a movimentos como o surrealismo, o dadaísmo e o conceptualismo. Estes movimentos incentivaram a sua abertura a novas formas de expressão e técnicas artísticas, como a serigrafia e a assemblage.
Porque devo investir em obras de Lourdes Castro?
Importância no Contexto da Arte Contemporânea Portuguesa:
Lourdes Castro é uma das figuras mais importantes da arte contemporânea portuguesa. Ao longo da sua carreira, desenvolveu uma linguagem artística única, centrada na exploração das sombras e na interseção entre luz e ausência. O seu trabalho influenciou gerações de artistas, e o reconhecimento tanto em Portugal como internacionalmente garante a sua relevância duradoura.
Reconhecimento Internacional:
As obras de Lourdes Castro são conhecidas além das fronteiras de Portugal. Participou em exposições de prestígio, como a Bienal de São Paulo e a Bienal de Veneza, e tem obras em coleções de museus importantes como o Museu de Arte Contemporânea de Serralves e a Fundação Calouste Gulbenkian. Este reconhecimento internacional confere às suas criações uma credibilidade que tende a aumentar o seu valor ao longo do tempo.
Legado Cultural e Histórico:
Castro esteve à frente de movimentos artísticos inovadores, como o grupo KWY, que desempenhou um papel crucial na arte europeia do século XX. O seu contributo para o desenvolvimento de novas formas de arte, como o seu trabalho performativo com sombras, confere-lhe um estatuto de pioneira. Investir em Lourdes Castro significa fazer parte de um legado que moldou a história da arte moderna e contemporânea.
Crescimento do Mercado de Arte Contemporânea:
O mercado de arte contemporânea tem crescido de forma significativa, com um aumento da procura por obras de artistas estabelecidos e de legado consolidado. As obras de Lourdes Castro estão bem posicionadas para se valorizarem ao longo do tempo, sobretudo à medida que o interesse em artistas modernistas e contemporâneos continua a expandir-se.
Escassez e Exclusividade:
Como Lourdes Castro faleceu em 2022, a sua produção artística é limitada, o que torna as suas obras escassas e exclusivas. A escassez é um fator fundamental que impulsiona o valor de uma obra de arte, especialmente de artistas já falecidos cujas criações deixam de ser produzidas. Possuir uma obra de Lourdes Castro significa ter uma peça única de um dos ícones da arte contemporânea portuguesa.
Diversidade de Suportes e Técnicas:
Lourdes Castro trabalhou com uma variedade de suportes, como serigrafia, plexiglas, tapeçaria, bordados e performances, o que oferece aos colecionadores a oportunidade de adquirir diferentes tipos de obras com o seu toque pessoal. Esta versatilidade torna a sua obra atraente para diferentes perfis de colecionadores, aumentando a procura e o valor de mercado.
Apreciação Estética e Intelectual:
As obras de Lourdes Castro, centradas no conceito de sombra, transmitem uma profundidade poética e filosófica que transcende a simples apreciação estética. A combinação de minimalismo, simbologia e interatividade faz com que as suas criações sejam intrigantes tanto para especialistas em arte como para apreciadores comuns. Investir na sua obra não é apenas uma decisão financeira, mas também uma forma de adquirir arte que oferece uma experiência intelectual e emocional rica.
Participação em Exposições e Retrospetivas:
A realização de exposições e retrospetivas dedicadas à obra de Lourdes Castro, como as realizadas pela Fundação Calouste Gulbenkian e o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, reforçam a sua importância no panorama artístico. Essas exposições aumentam a visibilidade da artista e, consequentemente, o valor das suas obras no mercado de arte.