Quem é Alfredo Luz?
Nas cores da memória, Alfredo Luz (1951) cria nas suas pinturas um conjunto de fragmentos que são reunidos pelos seus sentidos e pensamentos. Dividido entre as vivências da vida rural e da urbana, concebe um discurso complexo sobre os seus olhares do mundo quotidiano. Aquilo que parece vulgar, transforma-se noutro elemento rodeado de encanto e leveza. O seu universo criativo é apresentado, a partir da sua capacidade técnica de criação de formas com uma perfeita harmonia da cor, transmitindo sensação de pureza, sensibilidade e fantasia. A pintura de Alfredo Luz reflete a nostalgia melancólica ao narrar histórias tão estranhas quanto desconcertantes de homens-pássaros, mulheres-paisagens, barcos humanizados propícios à idealização de viagens e naufrágios. Na fusão dos elementos, a imagética tenta conjugar os opostos, a noite e o dia, o surrealismo de Bosch e o realismo telúrico de Bruegel. Na bruma, a visão fantástica do pintor português dilui parcialmente a dureza dos contornos, acentuando, em claro-escuro, o mistério e fascínio da imagem. Ao longo da sua carreira, já colaborou com outros artistas surrealistas como Cruzeiro Seixas e Luzia Lage.
A obra de Alfredo Luz é surrealista?
No contexto das vanguardas da década de 1920, surge o surrealismo, um movimento artístico e literário que expressa os pensamentos do inconsciente. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas do psicólogo Sigmund Freud, em 1924, André Breton escreve o Manifesto Surrealista. O irracional, os sonhos e as loucuras tornam-se o mote principal da produção artística surrealista. Os artistas surrealistas acreditavam que a arte poderia revelar verdades profundas sobre a mente humana e a realidade, e que essas verdades estavam além da compreensão racional. Nas suas obras exploraram o inconsciente e a subjetividade através de diversas técnicas como a colagem. No contexto internacional este movimento é marcado por artistas como Salvador Dalí, René Magritte, Frida Kahlo, Joan Miró e Max Ernst. Esses artistas criaram obras que eram ao mesmo tempo surpreendentes e estranhas, combinando elementos da realidade com imagens oníricas e fantásticas. Uma das obras mais famosas de Salvador Dalí é "O Sonho" (1931), que mostra uma cena onírica em que vários objetos estranhos flutuam num céu azul. Outra obra importante de Salvador Dalí é "A Persistência da Memória" (1931), que apresenta relógios bizarros pendurados num paisagem desolada. Outro surrealista que marcou este movimento, foi René Magritte, conhecido pelas suas pinturas que desafiam a lógica e a razão, como "A Traição das Imagens" (1929), que mostra um cachimbo com a inscrição "isto não é um cachimbo". Em Portugal, o movimento segue as estéticas artísticas de Paris, com artistas como Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Mário-Henrique Leiria, António Maria Lisboa, Mário-Henrique Leiria, Marcelino Vespeira, António Dacosta, entre outros.
Os trabalhos de Alfredo Luz enquadram-se numa linguagem técnicamente surrealista, devido às proporções, contudo a intenção não é surrealista. O artista português identificasse em parte com este movimento, contudo devido à natureza de contestação do surrealismo, o artista não se sente à vontade para afirmar que a sua obra é surrelista, pois não se encontra a protestar contra ninguém.
As suas personagens estão sempre em atitude de trabalho, acabando por ser um triunfo ao trabalho, enquanto que os surrealista priviligiavam outros assuntos e registo. A sua pintura acaba por ser uma manta de soluções, tando recorre ao surrealismo, como ao abstracto, naturalismo ou até à sua cidades imaginadas, dependendo sempre da mensagem que pretende transmitir. Sem dúvida, que a base dos seus trabalhos continua a ser surrealista mas integra outros elementos para dar voz aos seus pensamentos. Há nas suas peças uma demonstração de uma certa nostalgia ligada aos ciclos da própria natureza e à falta da ligação à terra. A desertificação das terras do interior e a destruição da natureza são temáticas que lhe encomoda bastante. Assim, a mensagem essecial que Alfredo Luz quer transmitir é o triunfo do trabalho, com uma mensagem ecologica. “A terra é tão generosa e nós não somos generosos com ela” — Alfredo Luz
As técnicas das pinturas de Alfredo Luz
Os primeiros trabalhos eram em oléo pela sua facilidade, contudo, atualmente pinta normalmente em acrilico, pelo óleo ser um material bastante tóxico. Afirma as facilidades de pintar a óleo por ser mais prático, mas que pintar em acrilico é um desafio pela tinta secar tão rápido. Obrigou assim ao artista de criar um novo método de pintura, tornando-o a sua criação mais espontaneadade e com uma maior capacidade de resolver.
Carreira de Alfredo Luz
Nasceu em Riomeão, Santa Maria da Feira, em 1951, estudou vários anos a disciplina de Educação Visual em cidades como Luanda, Arouca, Felgueiras, Moimenta da Beira, Caneças e Lisboa. Alfredo Luz é um dos precursores do Movimento surrealista português, em conjunto com Carlos Calvet e António Maria Lisboa. Devido a esse facto, integrou a dissertação de mestrado “A Fortuna Crítica do Surrealismo em Portugal Dos Pioneiros a Alfredo Luz ", Universidade Nova de Lisboa, em 2011, por M. Raquel Costa. Expõe com regularidade em Portugal e no estrangeiro e já particiou em diversas feiras de arte: Feira de Arte Contemporânea – Lisboa, 2006; Arte Madrid – Madrid, 2007 e a Exposição Internacional de Surrealismo – Santiago do Chile, 2008.