René Bertholo é uma figura incontornável na história da arte contemporânea portuguesa, cujo percurso artístico reflete uma incessante busca pela inovação e experimentação. Nascido em Lisboa em 1935, Bertholo foi um dos principais protagonistas da vanguarda artística que emergiu em Portugal nas décadas de 1950 e 1960. Com uma obra que atravessa o abstracionismo, o neo-figurativismo e a arte cinética, o artista soube integrar de forma pioneira as tecnologias e conceitos contemporâneos no seu trabalho, expandindo os limites tradicionais da pintura e da escultura. O seu envolvimento em projetos coletivos, como a revista e o grupo KWY, bem como a criação de dispositivos como os "modelos reduzidos" e a "makina", sublinha o seu papel como um dos artistas mais inovadores e influentes do século XX. Este artigo explora a trajetória multifacetada de René Bertholo, analisando as características distintivas da sua obra e o impacto duradouro que teve na arte contemporânea.
Qual é o percurso artístico de René Bertholo?
René Bertholo foi um artista português conhecido pela sua constante experimentação e inovação. Filho do pintor Augusto Bértholo, iniciou a sua formação artística oficial na Escola de Artes Decorativas António Arroio em 1947 e, posteriormente, estudou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL) entre 1951 e 1957. Durante a sua formação, começou a expor em mostras coletivas, como a VII Exposição Geral de Artes Plásticas em 1953 e o I Salão de Arte Abstracta em 1954.
Bertholo foi um dos fundadores da revista Ver (1953-1955), juntamente com colegas da ESBAL. Em 1956, integrou o "Grupo do Gelo", uma tertúlia artística e literária em Lisboa. Nesse mesmo ano, realizou a sua primeira exposição individual na Galeria Pórtico, que ele próprio dinamizou com outros artistas como José Escada e Lourdes Castro, com quem se casou em 1957.
Após o casamento, mudou-se para Munique, onde viveu durante um ano antes de se estabelecer em Paris em 1958. Em Paris, Bertholo desenvolveu um dispositivo de impressão serigráfica que possibilitou a criação da revista KWY, um marco importante na sua carreira, e que foi o ponto de partida para o grupo KWY, composto por artistas de várias nacionalidades. Com o grupo, expôs em várias cidades europeias entre 1960 e 1962.
Durante a década de 1960, a sua obra evoluiu do abstracionismo para um neo-figurativismo irónico, participando ativamente na Nouvelle Figuration. A partir de 1966, René Bertholo começou a criar "modelos reduzidos", pequenos objetos movidos eletronicamente que questionavam a natureza do objeto artístico. Este interesse pela eletrónica levou-o a Berlim em 1972, onde estudou na Deutscher Akademischer Austauschdienst.
Nos anos 1970, Bertholo retomou a pintura, focando-se em temas narrativos e explorando a memória e a repetição. Entre as suas obras de destaque estão as pinturas murais na rue Dussoubs, em Paris (1972), e no Hospital do Barreiro (1983). Em 1982, mudou-se para o Algarve, onde continuou a aprofundar a sua pintura e desenvolveu a makina, um aparelho digital que dava continuidade aos seus "modelos reduzidos".
Ao longo da sua carreira, Bertholo participou em importantes exposições internacionais, incluindo uma retrospetiva no Museu de Serralves em 2000 e a exposição Making Choices no MoMA, também em 2000. A sua obra é reconhecida pela originalidade e pela capacidade de integrar várias disciplinas e influências, mantendo sempre um espírito inovador e experimental.
Quais são as características das obras de René Bertholo?
Abstracionismo Inicial: Nos primeiros anos da sua carreira, a obra de Bertholo foi fortemente influenciada pelo abstracionismo, com referências a artistas como Kandinsky, Klee, Rothko e Pollock. Este período é caracterizado por uma exploração das formas e das cores, numa tentativa de captar a expressividade através de composições não figurativas.
Neo-Figurativismo Irónico: A partir da década de 1960, Bertholo começou a incorporar elementos figurativos nas suas obras, mas com um tratamento irónico e uma abordagem que desafiava as convenções do figurativismo tradicional. Esta fase marca uma transição para uma linguagem visual mais acessível, embora ainda carregada de complexidade e subtexto.
Influências da Pop Art e Nouveau Réalisme: Bertholo aproximou-se do sentido serial e repetitivo da Pop Art, ao mesmo tempo que explorava a acumulação de objetos, uma característica do Nouveau Réalisme. Estas influências são visíveis na sua obra pela repetição de formas e pela incorporação de elementos do quotidiano, muitas vezes de forma lúdica ou crítica.
Modelos Reduzidos: Em 1966, Bertholo começou a criar objetos mecânicos que ele chamou de "modelos reduzidos". Estes eram pequenos dispositivos eletrónicos que introduziam o movimento e o acaso na arte, questionando a natureza estática e inalterável da obra de arte. Estes trabalhos representam uma síntese entre arte e tecnologia, antecipando questões que se tornariam centrais na arte contemporânea.
Exploração da Narratividade e Memória: Na década de 1970, após o seu regresso à pintura, Bertholo começou a focar-se em temas narrativos, criando obras que evocavam fragmentos de memória e experiências pessoais. As suas séries de "Mulheres Imaginárias" e "Quartos de Dormir" são exemplos de como o artista explorava a narratividade e a repetição de elementos visuais.
Intervenção no Espaço Público: René Bertholo também se destacou pela sua intervenção no espaço público, como nas pinturas murais e em projetos de arte urbana. Estas obras ampliaram o seu campo de atuação para além do ateliê, levando a sua arte a espaços acessíveis ao grande público.
A Makina: Nos anos 1980, Bertholo desenvolveu a "makina", um aparelho que consistia num sintetizador e sequenciador digital programável. Esta invenção representou uma continuidade do seu interesse pelos "modelos reduzidos", mas agora num contexto sonoro e digital, mostrando o seu constante interesse pela inovação e pela incorporação de novas tecnologias na arte.
Qual é a influência das obras de arte de René Bertholo?
Pioneirismo na Arte Contemporânea Portuguesa: René Bertholo foi um dos artistas que ajudou a introduzir e a consolidar novas tendências na arte contemporânea portuguesa, especialmente no período pós-Segunda Guerra Mundial. Ele foi um dos primeiros a explorar a transição do abstracionismo para o neo-figurativismo em Portugal, influenciando gerações posteriores de artistas que procuraram quebrar com as tradições artísticas estabelecidas.
Contribuição para a Pop Art e Nouveau Réalisme: A sua obra, especialmente nos anos 1960, foi marcada por uma aproximação à Pop Art e ao Nouveau Réalisme, movimentos que se desenvolviam simultaneamente em outros países. Bertholo trouxe para a arte portuguesa o interesse por temas do quotidiano, pela cultura de massas e pela serialidade, contribuindo para o alargamento do repertório visual e temático da arte contemporânea em Portugal.
Inovação Técnica e Multidisciplinaridade: A criação dos "modelos reduzidos" e, posteriormente, da "makina" mostrou uma antecipação das práticas multidisciplinares que se tornariam comuns na arte contemporânea, onde a fusão entre arte e tecnologia é central. Estas obras influenciaram artistas que, mais tarde, procuraram explorar a eletrónica, o som e o movimento nas suas criações, mostrando a viabilidade e a riqueza dessas interseções.
Revista KWY e o Grupo KWY: A revista KWY, co-fundada por Bertholo em Paris, foi um marco importante na articulação e disseminação de ideias artísticas inovadoras na década de 1960. O grupo KWY, composto por artistas internacionais, foi um veículo crucial para a troca de influências entre Portugal e outras cenas artísticas europeias, contribuindo para o diálogo intercultural e para a internacionalização da arte portuguesa.
Arte Pública e Intervenção Urbana: A sua intervenção em espaços públicos, com murais e esculturas, antecipou práticas que se tornariam mais comuns em Portugal nas décadas seguintes. Bertholo ajudou a redefinir o papel do artista como alguém que não apenas cria para o espaço privado ou galerístico, mas que também intervém no espaço público, influenciando a forma como a arte interage com o ambiente urbano e social.
Exploração do Acaso e Movimento: As suas obras que incorporam o movimento e o acaso, como os "modelos reduzidos", influenciaram o desenvolvimento de práticas artísticas que questionam a natureza estática da arte e que exploram a interatividade. Essa abordagem foi inovadora na forma como desafiou a percepção tradicional do objeto artístico, influenciando movimentos como a arte cinética e as práticas interativas.
Porque devo investir em obras de René Bertholo?
Importância Histórica e Cultural: René Bertholo é uma figura central na história da arte contemporânea portuguesa, com uma carreira que atravessa vários movimentos artísticos e que contribuiu significativamente para a inovação no panorama artístico do século XX. Possuir uma obra de Bertholo é ter uma parte da história da arte, o que lhe confere um valor cultural inestimável.
Originalidade e Inovação: As obras de Bertholo são reconhecidas pela sua originalidade e pela experimentação com novos materiais, técnicas e conceitos. Ele foi pioneiro na introdução de tecnologias e na criação de obras interativas, como os "modelos reduzidos" e a "makina". Esta abordagem inovadora torna as suas obras únicas e altamente valorizadas no mercado de arte.
Apreciação de Valor: O reconhecimento da obra de Bertholo em exposições internacionais de prestígio, como a retrospetiva no Museu de Serralves e a participação na exposição Making Choices no MoMA, contribui para a valorização contínua das suas obras. Investir em obras de Bertholo pode ser uma oportunidade de adquirir peças que tendem a valorizar-se com o tempo, especialmente à medida que o seu legado artístico se torna mais apreciado.
Demanda no Mercado de Arte: As obras de Bertholo são procuradas tanto por colecionadores privados quanto por instituições, o que assegura um mercado estável e em crescimento. A sua versatilidade, desde pinturas até objetos mecânicos, aumenta a atratividade das suas peças para diferentes perfis de colecionadores.
Diversidade Artística: A obra de Bertholo abrange uma ampla gama de estilos e meios, desde o abstracionismo até ao neo-figurativismo, passando pela arte eletrónica e pela intervenção pública. Esta diversidade permite que investidores escolham obras que se alinham não apenas com a valorização potencial, mas também com o seu gosto pessoal e a sua estratégia de colecionismo.
Reconhecimento Institucional: Bertholo é um artista reconhecido por importantes instituições culturais, como o Museu de Serralves e o MoMA, o que confere às suas obras uma legitimidade e prestígio que são essenciais para a valorização no mercado de arte. O apoio e reconhecimento por parte destas instituições sugerem uma solidez no valor cultural e financeiro das suas obras.
Legado Duradouro: O impacto e a influência de René Bertholo na arte contemporânea garantem que o seu trabalho continuará a ser estudado, exibido e valorizado ao longo do tempo. Investir em obras de Bertholo é também investir num legado artístico que se perpetuará para além das tendências temporárias do mercado.