Arte e a cultura tem estado sempre no centro da sua vida. Conte-nos como começou esta paixão de uma vida pelo mundo Arte. Quais são os pontos mais extraordinários?
Sempre gostei de pintura e sempre soube que queria ser pintora, desde pequena. Aos 9 anos sofri um acidente grave que me obrigou a ficar presa a uma cama durante vários meses. Impedida de me mexer, das poucas coisas que conseguia fazer era pintar e desenhar deitada. Naqueles momentos eu viajava para outros lugares, é extraordinário o poder da imaginação. E claro, foi praticamente um curso intensivo de desenho!
Afirmou numa entrevista que “a arte é comunicação e história. Eu sou uma contadora de histórias”. Quais são as histórias que quer contar nas suas extraordinárias peças? Quais são os temas que quer comunicar ao público?
Vou descobrindo as histórias no meu dia a dia, por isso variam muito. No entanto, creio que existem experiências que são transversais ao ser humano, experiências que por vezes são as mais simples, mas que nos aproximam e é isso que eu procuro representar.
No teu “atelier” trabalha em diversas projetos simultaneamente: quantos trabalhos têm neste momento “em progresso”? Há algum que esteja a apresentar desafios específicos que gostasses de partilhar?
Temos sempre vários trabalhos em diversas etapas de desenvolvimento, é difícil contabilizar porque está sempre em alteração. Não sei se consigo apontar alguma obra que esteja a ser particularmente desafiante, é algo que vai mudando todos os dias. Muitos desses desafios encaro já como parte do processo e como uma possibilidade de revisitar um quadro e transformá-lo.
A preocupação com as alterações climáticas estiveram sempre presente na sua vida, mas, após viver a experiência da gravidez, essa preocupação ganhou maiores proporções. Quais são os desafios que tens vindo a encontrar ao falar sobre as alterações climáticas?
Com uma maior pesquisa sobre o tema ganhei um maior conhecimento e percepção sobre o assunto e por isso sinto que estou muito mais atenta e ciente do que se passa, não só localmente como num contexto mundial.
Vive entre Lisboa e Londres, duas cidades com possibilidades distintas. Como tem sido a sua experiência? Quais são as grandes diferenças que tem sentido entre estas duas Cidades?
Londres é uma metrópole cheia de vida e de culturas, e oferece imensas oportunidades de inspiração. Conheço pessoas tão diversas, e isso ajudou-me a ganhar outras perspectivas e a conhecer outras realidades. Lisboa começa a ganhar alguma desta abertura e multiculturalidade de Londres mas com um ritmo mais leve, que permite mais tempo para absorver estas novidades e pensá-las melhor. A vivência é muito diferente, não é melhor nem pior em nenhuma das cidades.
Já trabalha no mundo da arte há algum tempo. Quais são os artistas que a tem inspirado? Qual é o seu conselho para os jovens artistas que atualmente dão os primeiros passos neste mercado?
Os artistas que me inspiram, e vou sempre descobrindo pessoas novas, inspiram-me por razões diferentes nos seus trabalhos. Por exemplo, as obras Anselm Kiefer inspiram-me pela sua textura e pela representação de uma memória desconfortável, enquanto os trabalhos de David Hockney interessam-me mais pela cor. Num registo totalmente diferente, admiro a ousadia sensual das instalações de vídeo de Pipilotti Rist e a forma imersiva como apresenta o seu trabalho. Outro exemplo, um pouco mais contemporâneo, é Njideka Akunyili Crosby, pelo seu trabalho de cor, textura e conjugação de materiais muito rico, e pela representação da condição feminina e da ideia de identidade numa perspectiva tão singular. No panorama nacional, acompanho há muito o trabalho de Bordallo II, que admiro pela mensagem e pela forma como utiliza materiais tão distintos para criar as suas peças. Para os jovens artistas a começar, o único conselho que tenho é não desistir, há espaço para todos!
Se tivesse a possibilidade de escolher uma obra de arte para a sua “coleção pessoal”, qual seria?
É quase impossível escolher só uma, mas penso que escolheria qualquer pintura das séries de mulheres do Tahiti de Paul Gauguin.
Por fim, qual é o artista com quem sonha trabalhar um dia?
O que me inspira e gosto bastante de fazer nos meus trabalhos é colaborar com pessoas de áreas diferentes.Tive a oportunidade de o fazer na exposição "Out of time" em mostra no Museu da Eletricidade, "Dear India" no Chiado e "Behind the red curtain" em Londres, e gostaria muito de continuar a ter a oportunidade de trabalhar e aprender com artistas de diferentes áreas.