Investir em obras de arte urbana?
A questão que se impõe é se é seguro e lucrativo investir em obras de arte urbana. Na opinião de António Prates, galerista há mais de 30 anos, este é um bom momento para apostar em arte urbana. “Eu adquiri e continuo a adquirir alguns [trabalhos], porque é um movimento com muita força e eu acredito nele como um daqueles que são preponderantes historicamente.”
O Jornal de Noticias perguntou a Vhils se vale a pena investir na arte urbana? O artista português afirmou: “Em princípio, qualquer investimento em arte, apesar de ser subestimado, tem um retorno gigante, não só na sustentabilidade do mundo artístico, como de retorno a longo prazo em termos de comunicação do país, de autarquias, ou de quem queira chamar a atenção para algo. São coisas que perduram no espaço e criam ligações emocionais com as pessoas, trazendo um retorno muito superior a qualquer outro investimento em publicidade de revistas, de internet ou seja do que for. Depois, do lado privado de compra de arte, muitos destes artistas começaram a vender as obras muito baratas e, hoje em dia, a sua actividade está a correr bem, não só em Portugal como fora. Têm coleccionadores que lhes compram peças e os próprios leilões mostram o valor que eles têm. Por isso, seja neste movimento, seja na arte em geral, qualquer investimento é sempre algo que tem um retorno. Sempre tive a preocupação de coleccionar, de fazer trocas, de ajudar artistas em alturas mais complicadas. Tenho feito sempre isso. Para mim, é emocionalmente importante. Não me vejo como investidor. Vejo-me a apoiar artistas e a conseguir reunir um espólio deste movimento, porque não há muita gente a fazer isso.”
Atualmente as obras de Vhils, Bordalo II ou Add Fuel integram a ‘assinatura portuguesa’ da arte urbana pelo mundo. Denotou-se, nos últimos anos, um crescente aumento do apoio a este movimento, sendo esta uma grande vantagem para os investidores. Não esquecer, que uma obra bem valorizada não é só aquela que retorna o investimento no futuro mas que também enche os olhos do comprador quando a vê. Tem-se que pensar no equilíbrio do gosto pessoal e retorno sobre investimento na aquisição de uma obra de arte.
Arte Urbana e o Campo imobiliário
A arte urbana tem ganho apoiantes por todo o país e muitas são as cidades que abrem espaço a este estilo de expressão. No campo do imobiliário, é cada vez mais concreta a valorização de edifícios, apartamentos, estabelecimentos comerciais e, sobretudo, áreas urbanas pela intervenção de artistas internacionais. O Jornal Expresso relembra o que aconteceu ao bairro de Shoreditch, em Londres, populado por obras de Borondo, Banksy ou dos portugueses Add Fuel ou Vhils. Shoreditch é hoje uma das áreas mais desejadas para viver em Londres, sobretudo pelas camadas jovens. Embora os preços pareçam ter estabilizado, entre 2013 e 2014, registaram-se aumentos entre 25 e 30%. “Em 2014, o que quer que puséssemos no mercado vendia, independentemente do preço”, recorda Martin Phillips, diretor da agência de Shoreditch da Fyfe Mcdade. O mesmo efeito de atração replica-se um pouco por todo o mundo, desde Montréal — onde as paredes já estiveram bem mais vazias e a habitação muito mais barata; a Wynwood, em Miami, uma antiga zona de armazéns que se tornou um destino da moda através da operação da família Goldman; ou, saindo do mundo ocidental, à ilha de Djerba, na Tunísia, uma aldeia em que as rendas mais do que duplicaram depois de um festival de arte urbana que juntou 150 artistas, entre os quais, quatro portugueses.
“Hoje, os artistas recebem pedidos para pintar murais porque os proprietários pensam que isso atrairá novos inquilinos ricos e afastará os graffiti que normalmente os desencorajam”, escreveu Elena Martinique na Widewalls, uma revista especializada na cultura urbana. Muitas vezes, os arquitetos já incluem nos seus projetos espaço para intervenções de arte urbana. Martinique indica o caso de um edifício em Chelsea, Nova Iorque, que suporta duas pinturas do brasileiro Eduardo Kobra. Desde 2012, “o valor de mercado subiu de 880 mil para 2.075.000 dólares, e o agente imobiliário Michael Rosser afirma que os murais contribuíram em 15% para este crescimento. Peças de Banksy ficaram conhecidas por fazerem duplicar o valor de propriedades de um dia para o outro”, relata. Na maior parte das vezes, os projetos são apresentados como ações de reabilitação urbana com motivações sociais e apoiados por autarquias e empresas de mediação imobiliária, como a Kaufman & Broad (parceira da iniciativa StreetArt13, que renovou a imagem do 13º arrondissement, em Paris) ou a The Ratkovich Company (em Los Angeles, que pagou a WRDSMTH para pintar oito murais na baixa da cidade). Sobre este fenómeno Pedro Soares Neves, investigador na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, acredita que não é um artista nem um edifício isolado que conseguem marcar o fenómeno da valorização imobiliária pela arte urbana. Há todo um ambiente que se conjuga.