A artista Ângela Ferreira irá participar, com a instalação «Zip Zap Circus School», na 17.ª Bienal de Istambul (Turquia), considerada uma das bienais de arte mais importantes do mundo. A mostra realiza-se de 17 de setembro a 20 de novembro, com curadoria de Ute Meta Bauer, Amar Kanwar e David Teh.
Selecionada diretamente pela equipa curatorial da Bienal de Istambul, a obra «Zip Zap Circus School» (2000-2002) é uma "estrutura temporária" que "explora a ideia de arquitetura como algo que se deseja ou um sonho para o qual se trabalha". A instalação traduziu uma parte (à escala 1:1) do projeto especulativo que o arquiteto moçambicano Pancho Guedes concebeu ― apresentado pela primeira vez em 1996 ― como solução para a residência permanente de uma escola para crianças na Cidade do Cabo (a Zip Zap Circus School).
A participação de Ângela Ferreira na 17.ª Bienal de Istambul conta com o apoio da Direção-Geral das Artes, formalizado através de um Acordo de Cooperação Internacional, no quadro de uma estratégia para a promoção internacional da criação artística e dos criadores portugueses.
Fundada em 1987 e organizada pela lstanbul Foundation for Culture and Arts (iKSV), a Bienal de Istambul atrai cerca de 500.000 visitantes por edição e tem como principais objetivos a criação de um espaço de afirmação de novas tendências na área da arte contemporânea, assumindo-se como um ponto de encontro e de convergência, em Istambul, entre artistas e públicos de diversas culturas.
Tendo em conta o espaço de referência e influência cultural e artístico potenciado pela Bienal de Istambul, sublinha-se a relevância da participação de Ângela Ferreira, considerando a singularidade e reconhecimento internacional da obra e do percurso da artista.
Ângela Ferreira nasceu em 1958 em Maputo, Moçambique. Concluiu os estudos de Artes Plásticas na África do Sul, obtendo o grau de mestre na Michaelis School of Fine Art, University of Cape Town. Atualmente, vive e trabalha em Lisboa, e leciona na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, onde obteve o Doutoramento, em 2016. O trabalho de Ângela Ferreira desenvolve-se em torno do impacto do colonialismo e pós-colonialismo na sociedade contemporânea. Estas investigações são guiadas por uma pesquisa profunda e pelo filtrar de ideias que conduzem a formas concisas, depuradas e evocativas. Representou Portugal na 52.ª Bienal de Veneza em 2007, onde continuou as suas investigações sobre a forma como o modernismo europeu se adaptou, ou não, às realidades do continente africano traçando a história da ‘Maison Tropicale’ de Jean Prouvé. É ainda a arquitetura que serve de ponto de partida para a o aprofundamento da sua longa pesquisa em torno do apagamento da memória colonial e a recusa da reparação, que encontra a sua mais complexa materialização na obra "A Tendency to Forget" (2015) focando o trabalho etnográfico do casal Jorge e Margot Dias. 'Pan African Unity Mural' (2018), exibido no Maat Museum Lisboa e no Bildmuseet, Umea, Suécia, foi concebido, retrospetiva e introspetivamente, para o “aqui” e o “agora”. Além da sua própria trajetória, outras histórias biográficas são simultaneamente narradas, expostas e escondidas neste trabalho. Em 'Dalaba: Sol’Exile' (2019), um trabalho focado em Miriam Makeba, uma das mais proeminentes figuras contra o apartheid, Ângela Ferreira cria várias esculturas baseadas em elementos arquitetónicos da casa de exílio onde Makeba viveu em Conakri, quase como um protótipo da relação entre o modernismo e a arquitetura vernacular Africana. As suas homenagens escultóricas, sonoras e videográficas têm continuamente referenciado a história económica, política e cultural do continente africano ao recuperar a imagem e obra de algumas figuras inesperadas como Bob Dylan, Peter Blum, Carlos Cardoso, Ingrid Jonker, Jimi Hendrix, Jorge Ben Jor, Diego Rivera, ou Miriam Makeba.