L' Amazone Noir 1912

Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) foi um dos artistas mais marcantes da cena artística portuguesa do século XX. Nasceu na quinta dos seus pais em Manhufe, Amarante, a 14 de novembro de 1887, e desde cedo mostrou uma inclinação para o desenho e a arte. Criado num ambiente familiar abastado, passou a sua infância entre Manhufe e as estâncias de veraneio na praia de Espinho, onde conheceu Manuel Laranjeira, cuja amizade foi determinante para incentivar o seu interesse pelo desenho. Em 1905, mudou-se para Lisboa para estudar Arquitetura na Academia de Belas-Artes, mas aos 19 anos, em 1906, partiu para Paris com o objetivo de continuar os seus estudos. No entanto, o ambiente artístico fervilhante de Paris alterou drasticamente o seu destino, direcionando-o para a pintura. Influenciado pela ilustração da imprensa francesa, abandonou a arquitetura e mergulhou no mundo da pintura e do desenho. Os primeiros anos em Paris foram marcados pelo convívio com artistas portugueses emigrados, mas Amadeo de Souza-Cardoso distanciou-se gradualmente desse círculo para mergulhar profundamente nas pesquisas do modernismo internacional. Estudou na Academia Viti e estreitou laços com Amedeo Modigliani, movendo-se num círculo internacional que incluía artistas como Boccioni, Severini, Juan Gris, Sonia e Robert Delaunay, entre outros. Em 1911, Amadeo de Souza-Cardoso mudou-se para um novo estúdio e realizou exposições notáveis, como no Salon des Indépendants e no Salon d’Automne, além de expor internacionalmente no Armory Show em Nova Iorque, ao lado de artistas como Braque, Matisse e Duchamp. A sua presença nessa exposição internacional ajudou a solidificar o seu estatuto como um artista de renome internacional. Em 1915, devido à eclosão da Primeira Guerra Mundial, Amadeo voltou a Portugal e estabeleceu-se em Amarante, onde a sua arte amadureceu e se aproximou da técnica de colagem. O isolamento foi interrompido pelo contacto com Sonia e Robert Delaunay, estabelecendo novas amizades e projetos artísticos. A obra de Amadeo de Souza-Cardoso demonstrou uma notável modernidade, incorporando elementos dos mais inovadores movimentos artísticos da sua época, incluindo Expressionismo, Cubismo, Futurismo e Abstracionismo. A sua obra é uma fusão fascinante de influências, que vão desde a arte africana até à precisão das obras japonesas. O que torna o trabalho de Amadeo de Souza-Cardoso verdadeiramente único é o seu uso magistral de cores intensas e um grafismo exuberante. Cada pincelada e traço revelam a sua mestria em transmitir emoções e ideias por meio da tela. No contexto português, Amadeo de Souza-Cardoso desempenhou um papel fundamental como membro do grupo Orpheu, um movimento literário e artístico que revolucionou as artes em Portugal. Neste ambiente efervescente, Amadeo de Souza-Cardoso estabeleceu relações de amizade com artistas que partilhavam paradigmas artísticos e políticos semelhantes, incluindo Almada Negreiros e Santa Rita Pintor. Juntos, desafiaram as convenções estabelecidas e exploraram novas formas de expressão artística. Amadeo de Souza-Cardoso faleceu em Espinho em outubro de 1918, vítima de pneumonia. Com apenas 30 anos, deixou um legado artístico extraordinário. A sua obra, uma mistura cativante de influências e cores intensas, atravessou fronteiras e gerações, influenciando não apenas a arte portuguesa, mas também deixando uma marca duradoura no cenário internacional. Amadeo de Souza-Cardoso foi e continua a ser, uma figura emblemática na história da arte portuguesa. A sua contribuição para o mundo da arte transcendeu fronteiras e gerações, deixando para trás um legado que continua a inspirar e cativar os amantes da arte em todo o mundo.

Artigos P55 Magazine x Amadeo de Souza-Cardoso