A longa-metragem 'Poor Things', do cineasta grego Yorgos Lanthimos, conquistou o Leão de Ouro de melhor filme, prémio máximo do Festival de Veneza, anunciou o júri desta 80.ª edição do certame, presidido pelo realizador Damien Chazelle.
Protagonizado por Emma Stone, com Carminho no breve papel de uma fadista anónima, "Poor Things" ("Pobres Criaturas") decorre entre o fantástico e o real, para demonstrar como os padrões sociais pesam sobre as mulheres.
O Leão de Prata do Grande Prémio do Júri, o segundo mais importante do festival, foi para "Evil Does Not Exist", um hino à proteção da natureza dirigido pelo japonês Ryusuke Hamaguchi, o mesmo de "Drive my Car", nomeado para os Óscares.
O italiano Matteo Garrone conquistou o Leão de Prata de Melhor Realizador com "Io Capitano", uma história sobre a imigração subsaariana, que atravessa o deserto, o pesadelo da Líbia e os perigos da travessia do Mediterrâneo, protagonizada pelo senegalês Seydou Sarr, que recebeu o prémio Marcello Mastroianni de Melhor Ator Emergente.
Na cerimónia que encerrou o festival, Matteo Garrone deu a palavra ao senegalês Mamadou Kouassi, cujo testemunho inspirou o filme, e dedicou o prémio "a todas as pessoas que não pediram para chegar a [ilha italiana de] Lampedusa", apelando ao fim do tráfico de seres humanos e ao estabelecimento de corredores seguros para os requerentes de asilo.
O chileno Pablo Larraín recebeu o prémio de melhor argumento por "El Conde", sátira em que retrata o ditador Augusto Pinochet como um vampiro sanguinário, numa crítica à impunidade dos dirigentes da ditadura do seu país (1973-1990). Uma realidade que voltou a denunciar na cerimónia de encerramento do festival, quando passam 50 anos sobre o golpe militar que derrubou o governo de Unidade Popular, de Salvador Allende.
A Taça Volpi de melhor ator foi para o norte-americano Peter Sarsgaard pela sua atuação em "Memory", segunda longa-metragem do mexicano Michel Franco nos Estados Unidos, sobre a relação de uma mulher atormentada por traumas de infância, interpretada por Jessica Chastain, com um homem que enfrenta a demência precoce.
Ao receber o prémio, Sarsgaard recordou a greve dos atores e argumentistas norte-americanos, os motivos que levaram à paralisação, e apelou aos grandes estúdios e plataformas não só para a retribuição condigna dos trabalhadores, mas também para a limitação do uso da inteligência artificial.
"Este trabalho baseia-se em relações humanas (...) e a experiência humana não pode ser entregue a máquinas", alertou o ator. "Se perdermos essa batalha, a nossa indústria será a primeira de muitas a cair", reforçou.
A Taça Volpi de melhor atriz foi para Cailee Spaeny, pelo desempenho em "Priscilla", o filme de Sofia Coppola sobre Priscilla Presley.
O festival atribuiu os Leões de Ouro de Carreira à realizadora Liliana Cavani e ao ator Tony Leung Chiu-wai.
Fonte: Lusa