Conta-nos como começou esta paixão pelo mundo da arte.
A minha paixão pela arte começou desde que me lembro de existir. Não sei exatamente quando, mas sempre fui apaixonada pela pintura e também por outras áreas artísticas, como o teatro e a dança. Os meus pais inscreveram-me num atelier de pintura quando eu ainda era bastante pequena e todos os fins de semana ia com a minha mãe ver uma exposição ou fazer um workshop. Acho que isso teve muito impacto no meu percurso.
Como funciona o teu processo criativo?
Deixo que o mundo atual influencie as minhas pinturas. Na verdade, uso a minha prática para explorar questões atuais numa perspectiva muito pessoal. Sou uma pessoa extremamente emotiva. Portanto, uma das minhas formas de lidar com acontecimentos e partilhar a minha perspectiva dos mesmos é através da criação artística. Normalmente tudo começa com um acontecimento do dia-a-dia, pode ser algo que vi nas notícias, algo que me aconteceu a mim ou a alguém que conheço. Quando acontece alguma coisa eu sinto a necessidade de escrever sobre isso. É nesse processo que surgem ideias para pinturas. A escrita e a pintura surgem como reflexão, como exposição de um problema, como crítica… Por isso, a escrita e a imagem relacionam-se, mas não são descritivas nem dependentes uma da outra.
Quais são os elementos que te inspiram?
Sou movida por cor, contrastes, o inacabado vs acabado, uma imagem reconhecível num contexto diferente e numa composição abstrata. Gosto de padrões industriais, como contentores, gosto da forma das pedras da calçada, cabras e, na verdade, qualquer tipo de animal. Estes elementos surgem muitas vezes.
Nas tuas peças de arte crias diversos universo, repletos de fantasia. O que procuras expressar nas suas obras?
O meu objecto de estudo mais comum é a atualidade, e especialmente as crises que vivemos, tanto humanitárias, como climáticas. Interessa-me também explorar o mundo da arte e questiono qual o meu papel no meio de tudo isto. Estes universos que eu crio acabam por ser reflexões muito pessoais sobre diversos temas. Algumas até têm um caracter mais cómico, ou sarcástico, outras mais esperançoso. Depende do mood que sinto ou que quero transmitir.
Como enfrentas os desafios criativos no teu trabalho?
Não sinto que haja um enorme desafio criativo, tenho sempre vontade de estar no atelier. Normalmente sei sobre o que quero falar ou pintar. Se estiver numa fase em que não estou a pintar tanto, escrevo mais. Vou a muitas exposições também e gosto de me rodear de outros artistas. Por isso acaba sempre por haver alguma coisa que motiva outra. Para além disso, penso que a prática artística vem também de muito trabalho e vontade, não de uma inspiração súbita.
Quais são os artistas que te inspiraram?
Muitos… mas aqui vai uma lista de artistas de quem me lembrei rapidamente: John Akomfrah, Frank Bowling, Gabriele Graesle, Johanna Mirabel, Peter Doig, Camila Cesarini - Armadilly, Dexter Dalwood, Ekaterina Popova, David Hockney, Ana Malta - NUMPARA, Maria de Brito Matias e Paula Rego.
Tem algum projeto ou trabalho mais recente que gostaria de partilhar?
Tenho um que irei anunciar em breve. Assim que puder irei divulgar com enorme entusiasmo.
És uma jovem artista, tens algum conselho que queiras partilhar com os jovens que estão a dar os primeiros passos no mundo da arte?
Acho que o meio artístico é difícil, muitas vezes injusto, muitas vezes opaco. Uma carreira artística é também instável e precisamos constantemente de outros trabalhos para sustentar a nossa prática, o que nos ocupa tempo em que poderíamos estar no atelier. Eu sinto que para viver neste meio é preciso ir desbravando caminho e que ainda não desbravei quase nada. A única coisa que sei é que há uma gratificação enorme ao fazer isto e acho que é essa gratificação que move os artistas. Muitas vezes é a essa gratificação e vontade que temos de agarrar, quando parece que não vamos conseguir avançar com a nossa carreira. É continuar e ir continuando.
Por fim, qual é o artista com quem sonhas trabalhar um dia?
Nunca tinha pensado nisto…quem quiser trabalhar comigo. Estou sempre disponível para colaborações e novas ideias.