Conta-nos começou a tua carreira como artista plástica.
Sinto que a minha carreira como artista ainda está no seu início, enquanto jovem artista ainda há muito por conquistar. No entanto, diria que a minha carreira como artista começou com a exposição do prémio Paula Rego em 2018. Foi a própria Paula Rego que escolheu as obras para aquela exposição, incluindo a minha, e para mim isso foi uma grande honra. Nessa altura, consegui ter os meus primeiros contactos com colecionadores e comecei a ter um feedback positivo do público.
De que forma descreves a tua abordagem artística?
A minha abordagem artística prende-se com um lado poético que procuro em tudo o que faço. Normalmente as minhas obras são vários “pedaços” de mim que se encontram, e que por isso se tornam ficção. Acima de tudo, procuro criar obras que possam inspirar o espectador a refletir sobre si mesmo e o mundo que o rodeia. Em termos de técnica, sou versátil e gosto de experimentar com diferentes materiais e processos criativos. No entanto, procuro manter a integridade da minha visão e mensagem, independentemente do meio que estou a utilizar.
Como funciona o teu processo criativo? O que procuras expressar nas suas obras?
Como artista, o meu processo criativo começa com a observação e reflexão sobre o mundo que me rodeia, assim como as minhas próprias emoções e experiências. Durante o processo de criação, mantenho um diálogo constante com a obra, ajustando até que ela atinja a forma que desejo.
Quando me perguntam o que é que alguma obra significa, normalmente gosto de devolver a mesma pergunta. Gosto que as pessoas decifrem os meus quadros e que retirem algo daí – mesmo que estejam completamente alheios ao que quis transmitir. Talvez por isto goste tanto da arte abstrata, porque pode ser uma coisa diferente aos olhos de cada pessoa. Contudo, aquilo que procuro expressar está quase sempre apegado a memórias que tento desconstruir com recurso a elementos como a cor, a forma, a textura ou até a palavra, retratando assim a minha perceção e interpretação de vários temas de forma poética e introspetiva.
Como enfrentas os desafios criativos no teu trabalho e como manténs a tua motivação?
Pessoalmente não gosto de forçar nada. Normalmente quando tenho de criar, acaba por acontecer. Com isto, não digo que a criatividade surja de uma força divina e que não seja preciso trabalhá-la. Uma forma de manter a minha motivação é continuar a aprender e a desenvolver as minhas habilidades, seja através de cursos ou pesquisas independentes. No meu caso, alimento a minha criatividade a ver exposições, a ler, e principalmente, a estudar. Sinto que para criar é necessária uma aprendizagem constante.
Quem são os artistas que te inspiram? Quais são as tuas influências?
Inspiro-me em obras de artistas como Gerhard Richter, Luc Tuymans, Sophie Calle, Nan Goldin, Mark Bradford, Rothko, ou artistas portugueses como José Luís Neto, Alexandre Estrela, Joana Patrão, Carla Rebelo, Pedro Tropa, entre muitos outros.
Tem algum projeto ou trabalho mais recente que gostarias de partilhar?
O meu projeto mais recente foi uma instalação que produzi para a Bienal de Fotografia (2022). Foi a primeira vez que expus o meu trabalho fotográfico com o título “a picture is worth a thousand lies”, sobre a falibilidade da fotografia associada à memória. Por outro lado, neste momento estou a trabalhar num projeto que, em princípio, se irá tornar numa curta-metragem e que tem por base um texto que escrevi no ano passado. Queria recomeçar a fazer obras em vídeo, nunca deixando a pintura e a fotografia.
Tens algum conselho que queiras partilhar com os jovens que estão a dar os primeiros passos no mundo da arte?
Como disse anteriormente eu também ainda estou em início de carreira, no entanto algo que me tem ajudado é tentar compreender o meio artístico em que me quero inserir – quero expor em espaços independentes, galerias, ou em museus? Quero trabalhar com um curador? Quero vender a minha arte ou apenas expô-la? Quem será o meu público?
Por fim, qual é o artista com quem sonhas trabalhar um dia?
O trabalho artístico é na sua grande maioria solitário. Quando penso em trabalhar com artistas, penso em expor ao lado deles, e estabelecer diálogos com as suas obras. Seria incrível expor ao lado de artistas como Susanne Themlitz, Ana Manso, Daniel Blaufuks, Vivian Suter, Cecily Brown, entre outros.