Ai Weiwei encontra paz em Portugal: 'Podia deitar fora toda a minha arte e não sentir muito'.
À medida que se adapta à vida no Alentejo, o artista prepara-se para uma exposição épica de design no Museu do Design em Londres, que contará com 200.000 bicos de bules e jarros quebrados. Ele fala sobre o poderio chinês, a inveja ocidental – e o seu desejo de gastar
É uma manhã quente e clara de primavera e Ai Weiwei leva-nos para um tour pelo enorme estúdio novo que está a construir a cerca de uma hora de carro de Lisboa. Não há outra casa à vista, apenas a paisagem verde e plana do Alentejo, e um grande céu azul salpicado de andorinhas em disparada. O estúdio, explica o artista, é uma réplica do seu antigo em Xangai, que foi concluído em 2011 para ser quase imediatamente demolido pelas autoridades chinesas: oficialmente, porque infringia os regulamentos de planeamento; extraoficialmente, por causa das críticas francas de Ai ao governo. Meses depois, o artista foi preso durante três meses e depois colocado em prisão domiciliar. Quando o seu passaporte foi devolvido em 2015, Ai deixou o país e não regressou mais.
“Vivemos numa paisagem em constante mudança”, diz Ai. A dele certamente mudou mais do que o da maioria das pessoas. Depois da China, ele estabeleceu-se em Berlim, mas saiu sob uma nuvem, dizendo: “O nazismo existe perfeitamente na vida cotidiana alemã hoje”. Mudou-se para o Reino Unido, onde teve desentendimentos com as autoridades de imigração. Na sua primeira visita, ele conseguiu inicialmente um visto de apenas 20 dias por conta de sua “condenação criminal” na China.